Salve, galera!
Independentemente da tal “licença poética”, observe os trechos abaixo como um exercício de
1) ♫ Eu nasci há dez mil anos atrás ♫ (Raul Seixas)
2) ♬ Beija eu, beija eu, beija eu, me beija ♬ (Marisa Monte)
3) ♪ Baixa essa guarda e encurta a distância que existe entre eu e você ♪ (Grupo Revelação)
E aí, percebeu alguma coisa? Saberia explicar os erros gramaticais? Vejamos!…
1) A forma verbal “há” indica tempo decorrido, logo é redundante o uso de “atrás” para indicar a mesma ideia de tempo passado. Ou se usa “há”, ou se usa “atrás”. É claro que a musicalidade se perderia com a correção gramatical, mas, obedecendo estritamente à norma culta, a frase deveria estar assim: ♫ Eu nasci há dez mil anos ♫ ou ♫ Eu nasci dez mil anos atrás ♫.
2) Pronome pessoal do caso reto (“eu”) não pode ocupar posição de objeto, logo deveria ser usado o pronome pessoal oblíquo átono (“me”). Além disso, como a vírgula antes de “me” não separa uma expressão intercalada anterior, o pronome deveria ficar depois do verbo (ênclise). É claro que a musicalidade se perderia um pouco com a correção gramatical, mas, obedecendo estritamente à norma culta, a frase deveria estar assim: ♬ Beija-me, beija-me, beija-me, beija-me ♬.
3) Depois de preposição, não se usa pronome pessoal do caso reto (“eu”), e sim pronome pessoal oblíquo tônico (“mim”). Além disso, em obediência à uniformidade de tratamento, como o locutor se refere ao interlocutor usando verbos na 2ª pessoa do singular, o pronome não pode ser “você”, e sim “ti”. É claro que a musicalidade se perderia com a correção gramatical, mas, obedecendo estritamente à norma culta, a frase deveria estar assim: ♪ Baixa essa guarda e encurta a distância que existe entre mim e ti ♪ ou ♪ Baixe essa guarda e encurte a distância que existe entre mim e você ♪.
Sim, a licença poética tem uma importância enorme na linguagem artística, sobretudo para manter a musicalidade/ritmo. No entanto, fique ligado também na norma culta!
😉