Salve, galera!
E aí?
“SE” – PRONOME REFLEXIVO (PR) x PARTE INTEGRANTE DO VERBO (PIV)
Sim. Vamos morrer e ficar com dúvida entre um e outro. Sim. Português não é Matemática, logo nem sempre é preciso haver uma verdade absoluta sobre certos fatos linguísticos. Sim. O que as provas de concursos fazem é justamente o contrário: elas cobram, frequentemente, classificações gramaticais como verdades absolutas, como C/E. Mas nem tudo é preto ou branco. Se uma banca expõe algo cinza e pede que você aponte se é preto ou branco, a culpa não é sua nem minha, é dela. “Ah! Mas o que me importa é acertar a questão, Pestana!”. Sim. A minha intenção também é que você acerte a questão. Agora, se uma banca resolve dar um gabarito contestável/errado e não anula, a culpa não é nossa — nem minha nem sua.
Feitas as devidas considerações, vamos ao que interessa: como diferenciar pronome reflexivo (PR) de parte integrante do verbo (PIV)?
Venha comigo! 😉
PRONOME REFLEXIVO
O SE só pode ser considerado 100% reflexivo se a ação praticada pelo sujeito incidir sobre si mesmo. Além disso, o verbo tem que ser necessariamente TD ou TDI, pois o SE PR sempre vai exercer função sintática de OD ou, mais raramente, OI.
– João se feriu com a navalha. (Equivale a “João feriu João com a navalha”, que equivale a “João foi ferido por João com a navalha”. Ele feriu a si mesmo, sacou?)
– Maria se impôs uma severa dieta. (Equivale a “Maria impôs à Maria uma severa dieta”, que equivale a “Uma severa dieta foi imposta à Maria pela Maria”. Ela impôs uma dieta severa a si mesmo, sacou?)
Nesses casos, o SE é evidentemente PR. Os verbos nesses casos costumam ser chamados de “verbos pronominais reflexivos”. Fechado? Blz!
PARTE INTEGRANTE DO VERBO
O SE integrante do verbo (PIV) é um “falso reflexivo”, pois não indica reflexividade evidente, uma vez que não se pode imaginar que o sujeito do verbo acompanhado de PIV exerce uma ação voluntária e intencional sobre si mesmo. Além disso, o SE PIV não exerce função sintática de nada.
– João se queixou de nós. (Equivale a “João queixou João de nós” ou “João foi queixado de nós por João”??? Claro que não!!! Essas construções loucas não são Português, são inexistentes na lingua.)
Percebeu como é impossível interpretar o SE como reflexivo? Logo, o SE é PIV, pois ele serve de apêndice para a conjugação verbal (eu me queixo, tu te queixas, ele se queixa, nós nos queixamos…). Chamamos a esse tipo de verbo de “verbo essencialmente pronominal”. É importante dizer que esse tipo de verbo é normalmente intransitivo ou transitivo indireto (raramente de ligação), mas nunca é transitivo direto ou transitivo direto e indireto. Saber esse detalhe é importante para diferenciar PIV de PR, hein!
O MOTIVO DA CONFUSÃO ENTRE “PR” E “PIV”
Na maioria das vezes, a dificuldade se dá porque o aluno tenta substituir o SE por A SI MESMO. Nessa troca, às vezes, dá-se a impressão que a permuta é perfeita. Mas não é. Por exemplo, quando se diz assim “Ele se levantou da cadeira”, muitos vão fazer assim: “Ele levantou a si mesmo da cadeira”. E vão achar que essa é uma frase legítima e que o SE é PR. No entanto, não é PR, e sim PIV.
Raciocine: quando se diz que alguém se levantou da cadeira, isso não quer dizer que ele pegou a si mesmo pelos braços (sei lá, rs) e se ergueu da cadeira. Não! “Levantar-se” é uma ação espontânea e individual. Logo, não há reflexividade, pois o indivíduo não está sofrendo a ação de ser levantado.
Sim. É uma sutileza, mas ela existe e é determinante para a classificação do SE como PR ou PIV. Em “levantar-se”, o SE é, portanto, PIV. Percebeu? (Não? Então leia de novo.)
Vou além… para ficar mais claro ainda: o que normalmente causa dificuldade são os verbos ACIDENTALMENTE pronominais, como é o caso de “levantar-se”, a saber: aqueles que NÃO SÃO, POR NATUREZA, acompanhados de SE PIV. Mas, quando mudam de transitividade — normalmente de VTD para VI/VTI —, passam a verbos acompanhados de SE PIV. (Essa questão da mudança de transitividade é o cerne da questão!) Veja:
– João esqueceu a carteira. (VTD)
– João esqueceu-se da carteira. (VTI; SE PIV)
– João casou ontem. (VI)
– João se casou com Maria. (VTI; SE PIV)
– João concentrou sua energia. (VTD)
– João se concentrou para lutar. (VI; SE PIV)
Para ver mais exemplos de verbos assim, consulte o capítulo 29 da minha gramática, em Regência Verbal, Pontos Importantíssimos.
VAMOS EXERCITAR!
A partir das explicações acima, aponte o SE corretamente, usando PR ou PIV.
1. João matou-se.
2. João suicidou-se.
3. João feriu-se nos espinhos.
4. João se afogou no lago.
5. João zangou-se com o irmão.
6. João se afastou do fogo.
7. João arremessou-se sobre o inimigo.
8. João se informou acerca de política.
9. João se deitou na cama.
10. João orgulha-se de ser judeu.
11. João se arrependeu do vacilo.
12. João atreveu-se a empreender.
13. João derreteu-se com a homenagem.
14. João se destacou na competição.
15. João se tornou médico.
Gabarito!!!
1. PR
2 a 15. PIV
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P.S.: Correndo por fora, ainda há o SE chamado de partícula expletiva, que pode gerar certa dúvida, mas ela é dissipada, pois existe um número finito de verbos acompanhados de SE expletivo, todos como intransitivos: ir, ficar, tremer, morrer, passar… Ah! Estudem firme o capítulo 31 dA Gramática!