Salve, galera!
Sabemos que a classe gramatical “advérbio” é invariável, o que significa que não muda de forma em sua relação com outras palavras dentro da frase. Por exemplo, na frase “Ela está menas chateada hoje”, o vocábulo “menas” é um advérbio, pois se relaciona com o adjetivo “chateada” (sabemos isso porque a única classe gramatical que modifica um adjetivo é o advérbio). Pois bem… a frase anterior está errada (afinal, advérbio é uma classe gramatical invariável, isto é, não muda de forma, não fica no feminino nem vai ao plural). Como a frase deveria ter sido redigida, então? Simples: “Ela está menos chateada hoje”.
Até agora, tudo bem? Beleza… Então continue a leitura…
Segundo todos os gramáticos consagrados que consultei (Bechara, Luft, Cegalla, Napoleão M. de Almeida, etc.), quando TODO funciona contextualmente como advérbio, ele pode variar. Eu falei PODE, e não DEVE. Mas por que pode variar? Simples: na língua culta, TODO funciona normalmente como pronome indefinido e, como sabemos, pronomes podem variar (todo, toda, todos, todas). Por influência desse traço de variação pronominal, quando esse vocábulo é usado contextualmente como advérbio, PODE sofrer variação. Exemplificando, temos:
– A menina estava todo desconfiada.
– A menina estava toda desconfiada.
Em ambas as construções acima, o vocábulo “todo(a)” é um advérbio de intensidade, pois modifica o adjetivo “desconfiada”. Por ter base pronominal, pode ou não sofrer variação em gênero e número. De certo modo, portanto, podemos dizer que esse é um dos raros casos em que uma palavra que funciona como advérbio varia, na língua culta.
– Ok, Pestana, mas isso já caiu em alguma prova de concurso? Se sim, como eu deveria agir: encarando como advérbio invariável ou variável?
Veja as duas questões abaixo e tire suas conclusões:
CRS – PM/MG – Soldado – 2013
– Assinale a alternativa CORRETA quanto às regras de concordância:
a) Manoel e Jordana comprometeram-se cedo: um por dinheiro, a outra, por amor.
b) Suas pernas estavam todo enlameadas.
c) Estas são fatalidades que não adiantam ocultar.
d) Bem haja os colaboradores dessa festa!
Gabarito: B.
Comentário: A) Quando se usam pronomes indefinidos “um” e “outro” de forma distributiva, eles não variam, mesmo se referindo a substantivos de gêneros diferentes, logo a frase deveria ficar assim: “Manoel e Jordana comprometeram-se cedo: um por dinheiro, o outro, por amor”. B) Observe que a banca escolheu a visão ortodoxa (digamos assim…) do advérbio “todo”, invariável. C) O sujeito do verbo adiantar é oracional (“Ocultar as fatalidades não adianta”), logo deveria ficar no singular. D) O verbo haver varia normalmente na expressão de agradecimento “bem haja”, logo deveria ser “Bem hajam os colaboradores…”.
Agora, prepare-se! Atenção!
FUNCAB – MPE/RO – Técnico de Contabilidade – 2012
– A alternativa que transcreve uma frase do texto em que foi feita uma construção INADEQUADA, quanto à concordância, é:
a) “(…) Eu sei que era você; devagarzinho, sem a gente sentir… Agora está aí, né?… Tá vendo o resultado?”
b) “(…) – Uai, essa que você pegou estava vivinha na hora que eu cheguei, e você ainda esqueceu o tanque cheio d’água(…)”
c) “(…) Eu soquei a ponta da faca naquelas coisas que faz o peixe nadar, sabe? Pois acredita que ela ainda ficou mexendo?(…)”
d) “(…) Aí eu peguei o cabo da faca e esmaguei a cabeça dele, e foi aí que ele morreu.(…)”
e) “(…) Quando eu cheguei, ela estava toda folgada, nadando. Você não está acreditando? Juro. Ela estava toda folgada, nadando.(…)”
Gabarito: C.
Comentário: O erro da letra C é porque o verbo fazer deveria estar no plural: “Eu soquei a ponta da faca naquelas coisas que fazem o peixe nadar…”. Observe a letra E: a banca considerou correta a variação do vocábulo “todo” funcionando como advérbio modificador de adjetivo (“toda folgada”).
Na época, muitos entraram com recurso, por não saber que TODO, quando advérbio, pode variar. Enfim, a letra E foi considerada certa pela banca, e eu concordo com isso. É coerente.
Espero que eu tenha ajudado mais um pouco em sua constante construção de conhecimento gramatical! Cada dia se aprende mais, por isso sua hora vai chegar! 😉